Período integral: a criança ganha ou perde? Especialistas defendem que a instituição ideal é aquela que busca o equilíbrio entre o cuidado e o trabalho pedagógico, entre o estímulo e o descanso, entre a rotina e a novidade
13/03/2015

Todos os dias, ao chegar na creche, é a mesma história: o filho da manicure Alessandra Venâncio gruda nas pernas da mãe e se recusa a entrar. Ele passa o dia inteiro na instituição, pois a mãe precisa trabalhar. O sofrimento é mútuo. "Sofro muito com essa situação. Minha esperança é que ele ainda se adapte", conta. Alessandra diz que, se tivesse uma alternativa, como uma babá em casa, não mandaria o filho para a creche por enquanto.

O dilema de Alessandra é o mesmo de muitos pais e mães. Matricular um bebê ou uma criança pequena em uma instituição em geral é não apenas uma grande mudança de rotina para a família, mas muitas vezes motivo de angústia para pais e filhos. O que acontece, então, quando uma criança precisa ficar na escola ou creche em período integral? O longo período longe dos pais pode ser um problema para o desenvolvimento da criança? A escola está preparada para receber essa criança durante tanto tempo? A angústia de muitos pais é justificável?

O período integral acaba levantando uma questão que ainda divide muitas opiniões em relação à educação infantil: a criança precisa ser escolarizada o quanto antes ou a escola é apenas um lugar bem estruturado para deixar os pequenos enquanto os pais trabalham? Nem um, nem outro. É a opinião do pedagogo Paulo Fochi, doutorando em educação pela USP e professor da Unisinos, onde leciona no curso de pedagogia e coordena a especialização em educação infantil. "É preciso se afastar dessas duas extremidades. Existem instituições - públicas e privadas - que conseguem ser menos assistenciais e menos escolarizantes. Isso porque constroem uma concepção pedagógica para criar uma boa experiência de vida", afirma.

No entanto, entre as famílias é comum a visão de que o melhor para uma criança pequena é ficar ao lado dos pais. Nesse cenário, o papel assistencial da creche ou escola - a instituição que cuida enquanto os pais não podem - surge como principal preocupação. Para a secretária Andreia Boccalini, mãe de um filho de três anos e um de sete, até os dois anos as crianças são muito carentes, e por isso é difícil deixá-las na escola. "O ideal mesmo seria que eu pudesse ficar com ele, mas, como isso não é possível, acho a escolinha a melhor opção", diz. "Eu não deixaria com babá, porque teria que ser uma pessoa de confiança. Além disso, o custo de uma babá é bem mais caro do que o de uma escolinha particular. E também é complicado ficar dependendo de uma só pessoa para cuidar do seu filho, na escolinha tem várias tias."

Para Paulo, é difícil determinar se passar muito tempo na escola é bom ou não para a criança, pois não só depende da escola, mas especialmente do tempo e disposição dos pais. Se essa criança ficar em casa, os pais se dedicariam ao desenvolvimento da criança? E se a criança ficar na escola, a instituição está bem organizada para acolher crianças tão jovens por tanto tempo, produzindo um espaço de bem-estar?

"A ideia binária de ser bom ou ruim para a criança é muito limitante. Pode ser que alguns pais saibam agir na medida certa, mas grande parte não dá conta. As crianças vão ficar com os pais para ver TV? Ficar no shopping? Não é simples dizer que a quantidade temporal é suficiente. Quando se está junto, que se esteja junto de fato, que não seja atravessado por uma tela de tablet, de TV, que seja uma relação de escuta e de diálogo", defende o especialista. Apesar disso, Paulo considera importante levar em conta a idade dos bebês que frequentam as creches e escolas em período integral com pouco tempo de vida, de poucos dias a poucos meses. "Há questões importantes na relação com a mãe, como a constituição psíquica e a consolidação do eu."

Organização do espaço
Desta forma, a educação infantil em período integral deve proporcionar um espaço agradável e que promova o bem estar das crianças. O ideal é que a escola crie um espaço convidativo, com ambientes em que a criança se sinta acolhida e confortável para brincar, aprender e se deslocar - ir ao banheiro, por exemplo, sem necessariamente pedir a permissão de um adulto. Os espaços destinados a atividades devem ter materiais atrativos e estimular a interação. É importante que também existam ambientes abertos e outros para descanso.

"Não estamos falando apenas dos ''cantinhos''. A ideia é que todos os espaços da escola sigam essa lógica, incluindo os corredores e a entrada", diz Lenira Haddad, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). "Em um ambiente assim, o período de adaptação é mais curto, a criança é mais feliz e gosta de voltar à escola. O período integral não será penoso para ela."

Organização do tempo
Também é importante que as crianças tenham uma rotina no ambiente escolar, mas ela não deve se prender à rigidez da tradicional divisão do tempo por áreas de conhecimento, como ocorre nos ensinos fundamental e médio, defende Lenira. Na educação infantil, a organização do tempo ideal permite à criança se localizar nesse tempo, saber o que está acontecendo e o que vem em seguida. A criança tem momentos sozinha, outros em que está em grupo, tem atividades de mais movimento e períodos para descansar. "O dia na educação infantil não pode ser visto sob perspectiva de uma rotina, de dois turnos divididos pelo horário de almoço, mas deve ser visto como uma jornada, da hora que ela entra à hora que ela sai", observa Paulo Fochi.

Jorge Alexandre Cardoso, coordenador do curso de pedagogia da Unisul e da Escola Dinâmica, em Florianópolis, destaca também a necessidade de equilibrar a atenção individual e o trabalho em grupos na educação infantil. "A faixa de 0 a 5 anos é muito heterogênea; as crianças mudam muito rápido e cada uma delas responde de uma forma diferente." Na escola em que Jorge trabalha, existe a educação infantil no período parcial e integral. Segundo ele, é importante que a escola que oferece o integral não pense apenas em "esticar as atividades" para ocupar o tempo. O ideal é que exista de fato um projeto, que inclui aprendizado, brincadeira e cuidado.

Veja mais notícias
Mais apoio a projetos sociais 28/03/2010

"Estamos em um momento muito bom, mesmo após a crise do ano passado. E, por isso, queremos ampliar nossos investimentos...

Sorriso cidadão para as crianças da ABCC 26/03/2010

A Associação Beneficente Criança Cidadã (ABCC) está chegando com mais uma novidade. Em parceria com a Associação Brasile...

Educação tem novas ações para o Música nas Escolas 26/03/2010

A compra de 600 novos instrumentos, mais a contratação de 60 estagiários regentes e a capacitação para 200 regentes do E...

Mutirão para saúde da criança no Cabo 26/03/2010

A Secretaria Municipal de Saúde do Cabo de Santo Agostinho realizará, nesta segunda-feira (29/03), o mutirão da infância...

Pernambuco terá 1,7 bilhão para investir em Territórios da Cidadania 24/03/2010

O Governo Federal vai ampliar o programa Territórios da Cidadania este ano. Serão R$ 27 bilhões aplicados em 5.227 obras...

Ação de Inclusão Digital beneficiará 27 mil jovens em todo o Estado 24/03/2010

A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - Sectma lança, amanhã (25), a segunda ação do Programa de Inclusão...

Newsletter
zaite
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

ABECC - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela ABECC.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a ABECC não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a ABECC implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar